Silêncio


11/04/2016



Já não foram todas as tragédias contadas? Tantas vezes dissecadas, esquadrinhadas, pesadas e medidas e, por fim, despidas de qualquer sentido trágico? Já não resta apenas a desinteressada contabilidade do que antes eram espetáculos de dor?

Não há nada de novo. Apenas que o sangue tantas vezes correu quente e brilhante e agora não é mais que um fluxo contínuo escuro e frio.

As guerras, tantas, muitas, já não são notícia. Já quase sequer são barbárie. São jogos. Há avanços, há recuos, há tratativas, há negócios.

Os meninos afogados desaguando na praia são tantos que, ainda que contados, já não contam mais. Já não doem mais.

Os futuros desperdiçados são tantos, são tantas as histórias de vidas que não serão, que se perderá facilmente, entre numerosos vazios, o vazio deixado por aquele menino que na nossa guerra cotidiana morreu com um tiro no peito, à porta da escola.

Nada de novo em São Paulo. E nada de novo na Síria, na Palestina, no Iêmen, na Líbia… nada de novo em lugar algum.

Não há nada mais que se possa contar e que venha soar como um estrondo na dormência da nossa alma.

Apenas um silêncio, talvez estupefato, talvez anestesiado.

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