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Sobre cavalos pálidos
04/05/2020

 

“Nós sabemos que o mundo vive da mentira.”

 

Tenho uma convicção profunda e antiga de que há mais verdade na ficção do que na vida real. É uma intuição clara, mas difícil de explicar. Basicamente, parece que somente sob o disfarce da invenção é possível descortinar por completo a nossa condição humana. Fora desse manto, no mundo real, um outro tipo de faz-de-conta, o da hipocrisia e das pequenas e grandes mentiras, parece necessário à nossa convivência comum.

 

Minha convicção encontrou ecos em duas frases que encontrei lendo O Cavalo Pálido, de Boris Sávinkov*. O livro retrata um grupo de pessoas, na Rússia Czarista, que fez a opção pelo terror para tentar mudar o mundo. Dois dos personagens, em momentos diferentes, se dirigem ao seu chefe colocando em dúvida a verdade do mundo e a verdade no mundo. O primeiro diz “nós sabemos que o mundo vive da mentira” e o outro diz “Ah, no mundo, não existe verdade.”

 

Uma das “provas” de que me valho para demonstrar a tese da verdade como domínio da ficção é a obra de Dostoiévsky. E, justamente, uma de suas obras me veio constantemente ao espírito nos últimos dois anos. Desde antes das eleições presidenciais de 2018 no Brasil, Os Demônios tem sido uma lembrança permanente. Mas também isso era difícil de explicar: o que teriam em comum a representação do caos instalado por um movimento de jovens niilistas com o surreal da condição brasileira – e de parte do resto do mundo também?

 

Uma pista para o melhor entendimento dessa conexão veio do comentário de Rubens Figueiredo, tradutor de O Cavalo Pálido. Em seu posfácio, ele diz, considerando que pálido é o cavalo que carrega o último cavaleiro do Apocalipse, a morte: “Não é ocioso sublinhar que a referência direta do autor é ao cavalo e não ao cavaleiro. Ou seja, não está em primeiro plano o agente imediato e consciente, mas o veículo, a força propulsora, poderosa e decisiva, conquanto sem direção e se escolhas próprias.”

 

Então era isso que aproximava em meu sentir Os Demônios da nossa realidade: a força destruidora e terrível do cavalo pálido que cavaleiros já não controlam!

 

*Editado pela Grua 
https://www.grualivros.com.br/o-cavalo-palido/



1967
05/06/2020

 

Não tenho memória do tempo de meu nascimento.

 

Com o tempo, no entanto, fui me entregando a esta tendência – não sei se ela atinge a todos, a muitos, ou a alguns poucos de nós – de estabelecer ligações entre a nossa vinda ao mundo e outros grandes eventos que o agitaram no mesmo momento ou lugar.


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