O Hezbollah e o dólar


21/05/2016



Quem é familiarizado com o Oriente Médio sabe que o Hezbollah é hoje o adversário mais imediato e mais perigoso de Israel.

Os Estados árabes, de modo geral, estão incapacitados – um quê de incompetência entra aí – ou pouco dispostos a servirem como campeões das próprias causas em relação a Israel, quanto mais da causa palestina que, em princípio deveria ser deles também.

Já não resta, para além dos que ainda esperam convencer os israelenses com belos discursos, senão o chamado arco ou eixo da resistência a fazer frente ao projeto de apagamento da questão palestina, à hegemonia de Israel na região e à vontade norte americana.

Esse grupo é encabeçado pelo Irã, tem a participação da Síria, conta com a resistência palestina em Gaza e nos territórios ocupados, e tem como ponta de lança o Hezbollah libanês.

O Hezbollah conseguiu forçar em 2000 a saída israelense do território libanês ocupado, sem qualquer contrapartida, algo até ali impensável. Em 2006, foi capaz de sustentar uma guerra de mais de um mês em que os israelenses já não conseguiam ocupar qualquer parte do território do Líbano nem afetar a capacidade de ataque do grupo. A expectativa é de que no próximo confronto, que todos dão por inevitável, o Hezbollah talvez seja capaz de ocupar parte do território hoje sob controle israelense.

Por tudo isso, enfraquecer o grupo é há muito a prioridade de Israel e dos Estados Unidos. Fazem parte dos esforços a própria guerra de 2006, que pretendia dizimá-lo, e a instrumentalização do Tribunal Especial para o Líbano, encarregado de julgar os suspeitos pela morte de Rafiq Al Hariri, para colocar pressão sobre ele.

A própria guerra que assola a Síria há cinco anos é parte, em grande medida, de um esforço de enfraquecer o eixo da resistência como um todo. Um dos resultados esperados da neutralização da Síria no seio dessa aliança é a interrupção de canais de suporte vitais para o Hezbollah.

A guerra na Síria opõe também os mais recentemente confessos aliados de Israel, à frente deles a Arábia Saudita, ao que estes percebem como o novo bicho-papão, o Irã. Por isso mesmo, os países árabes do Golfo decidiram participar da pressão contra o Hezbollah, classificando-o como terrorista.

O mesmo já faziam os Estados Unidos. Uns e outros deixam, é claro, de nos informar sobre o quê, exatamente, faz do Hezbollah um grupo terrorista., um detalhe dispensável, talvez.

E agora vem o mais recente golpe. Os Estados Unidos passaram legislação que criminaliza atos bancários que, de perto ou de longe, eles considerem relacionados a membros do Hezbollah ou pessoas próximas a eles. Isso põe sob pressão todo o sistema bancário libanês, um dos negócios mais importantes da economia do país, já que potencialmente atinge toda a população Xiita, mais de um terço do total.

Esse tipo de controle extraterritorial sobre transações bancárias no mundo inteiro tem permitido aos Estados Unidos transformarem os demais países e o bancos grandes e pequenos, em polícia a perseguir os usuais suspeitos.

Mais do que pretender incapacitar o Hezbollah, restringindo suas movimentações financeiras, para as quais ele tem alternativas, a medida americana tem a intenção de colocar pressão sobre a base de sustentação popular do grupo e de criar tensões entre as componentes da sociedade libanesa.

Quem sabe se uma nova guerra civil libanesa não seria vista com bons olhos por Israel e seus amigos?

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